terça-feira, 3 de março de 2009

Simples passageiro

Fui te ver. Eu já estava me acostumando com você. Você veio bem de repente, sabe? Eu pensava sobre isso no caminho. Pensava muito em você. Foi ai que me toquei como tudo é tão efêmero. Nossa vida, nossas paixões, nossas iras, tudo isso some. Não sei por que costumo embaralhar meus pensamentos, mas no final parece que a história se encaixa. É, eu estava feliz. Eu sabia que ia chegar lá e te encontrar. Você estaria me esperando. Mesmo assim, a gente não correria um pro outro de vez, como um casal que se encontra depois de longo período. A gente ia se encontrar como tímidos amantes, e demoraríamos um pouco pra ficarmos à vontade. Eu também olhava muito a rua que passava fugaz sob meus olhos distantes. O chão estava molhado e o céu se preparava pra outra dose de uma boa chuva gelada. Tudo vai embora, assim como a chuva e o chão molhado. Às vezes eu punha a cabeça pra fora da janela, pra deixar meu rosto sentir o frio lá de fora. Noite bonita, aconchegante. Eu poderia estar em casa curtindo o barulho da chuva no telhado. Mas eu queria mesmo estar ali. Eu nem podia, tinha inventado qualquer história pra ninguém saber que era pra te ver. E eu não estava apreensivo. Estranho isso. Mas era uma coisa boa, acredito. Sou geralmente muito ansioso, mas dessa vez não. Só pensava que chegaria e te veria. Não sabia o que viria depois, mas isso já me acalmava. Então, eu desci. Eu já estive lá algumas vezes. Foi ali que te encontrei. Quem diria que me apegaria tanto a você, não é? Mas agora lá estava tudo tão escuro. Vi alguém por lá. Você não estava. Precisou ir. Aquele lugar nunca esteve tão silencioso. Conversei com esse alguém um pouco, havia mesmo umas pendências a serem resolvidas. Mas eu não prestava atenção, tudo ali tinha um algo marcante, um cheiro característico, não sei definir. Coisas muito importantes para mim foram levadas a efeito naquele espaço. Eu precisava ir, afinal. No caminho de volta, apenas a avenida vazia e fria. Eu iria tomar o próximo que passasse. Agora ficou tudo muito confuso. Me embaracei todo. Onde eu estava em meus pensamentos? Onde eu estava agora? Tudo é tão frágil. Acho que agora eu já estava lá dentro, voltando, sentado, pensativo, olhando pela janela. São coisas de mais e eu me sinto muito imaturo. Agora chovia muito. Tive que fechar a janela. De repente, todos fecham as janelas. Ah, como eu queria ter te visto. E eu lembrava de seu rosto. Mas isso doeu. Eu não havia entendido muito bem. Todo aquele clima, as janelas fechadas, as pessoas cansadas, meus planos frustrados, a chuva pesada, e cada vez mais pesada. Tudo isso me fez sentir estranho. E a dor aumentou. Estava doendo mesmo. Não só por dentro, mas por fora. Meu Deus, eu havia me esquecido que não estava bem de saúde! O que me diriam quando chegasse em casa? Meu coração estava fora de ritmo. Eu não podia mais pensar em você, por que dóia. No mesmo lugar, por dentro e por fora. Foi uma noite bem esquisita. Foram muitas sensações deslocadas. Tudo ficou fora de ordem como minha mente. Mas tudo tinha um sentido. Em breve eu estaria em casa. Eu não dei o braço a torcer, pensei em você. Meu coração reagia loucamente, mas o que fazer? Eu apenas tinha que seguir em frente. Eu te veria novamente. Sim, agora eu só preciso me livrar da chuva que vai me acompanhar até o portão de minha casa. Foi uma noite e tanto. Muitas pessoas não dariam a mínima importância. Mas eu não. Eu gosto do meu mundo, eu viajo em minhas loucuras, eu crio e recrio personagens e universos. Coisas tão simples. Quero te mostrar apenas, com isso, como vale a pena viver. Quero te oferecer um mundo de flores e espinhos, de correrias, de campos ensolarados, de medos, de felicidades, de ternuras, de chuvas, um mundo onde a gente se cansa ao longo do dia, mas regenera as forças à noite. Um mundo onde tenhamos a certeza um do outro. Quero te oferecer uma mão firme, pra que possamos cruzar esse mundo, pra que possamos enxergar com a visão da simplicidade. Tudo é tão inconstante, tão rápido. E é por isso que naquela noite eu quis tanto te ver, por isso que ainda quero te ver novamente, por que tudo passa voando sobre nossas cabeças. Este é o grande espetáculo da vida, sempre tão simples e paradoxal.

3 comentários:

  1. te enganou, porque dessa vez eu entendi perfeitamente. da minha forma, mas entendi. e não, não me perdi.
    bom texto, gostei... muito mais simples e deixa com vontade de saber o final :}

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  2. Na verdade é simples mas a gente esquece disso sempre. Impressionante.
    É um bom texto, bem escrito, não é cansativo mas por algum motivo eu não gostei.

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  3. Caramba, sem palavras...
    posso apenas dizer por mais doido q pareça, q eu vivi esse texto qnd li, cheguei a sentir o frio e a desolaçao da chuva...
    é perfeito

    *_*

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