terça-feira, 15 de setembro de 2009

Requiem: Memórias


Por uma dessas insones madrugadas ocorreu-me de passear nos vales sombrios de minhas memórias. Deixei-me envolver pela atmosfera noturnal e ao encontrar o defunto de um velho Sonho, a música me fez sufocar. Sentia como se o meu coração fosse esmagado à uma pressão gigantesca, impedindo meus pulmões de impelir o ar. Ao olhar e sentir o cadáver, uma das sensações mais inexplicáveis se apoderou de mim. Eu o contemplava ali, imóvel. Uma vulgar lembrança de um Sonho vivaz e impetuoso que caminhara comigo há não muito tempo. Era possível ver em seu semblante, mesmo, naquele momento, estático e carcomido, a sua aparência juvenil. Transcendi à primavera de meus sonhos, ao momento e ao lugar onde pude reviver toda essa estranha felicidade. Ali eu confrontei meu eu quando no vigor da paixão. Ali o vulto de meu Sonho, com seu semblante encorajador, apontava-me o rosto mais belo e misterioso que já cruzou meu caminho. Eu pude ver meu coração negando-se a qualquer custo a admitir o que sentia. Mãos hábeis, olhos profundos. Ainda todo o ambiente podia se fazer sentir facilmente, e frente a esse estímulo o choro bateu à porta de minha garganta. Ora queria deixá-lo fluir e lavar a minha desgraça, ora o prendia para que outros sonhos não desmoronassem juntamente com ele. Ainda toda a felicidade e dor se apresentavam ante minha presença, fazendo meu espírito comover-se de maneira tão sublime que não seria possível detalhar. Como que querendo despertar, forcei meus olhos até abrí-los novamente. Minhas mãos seguravam firmes as mãos do cadáver de meu Sonho. "Cante para mim, cante para mim!" eu repetia enquanto o chacoalhava. Era como a sensação da esperança de ver seus olhos a abrir-se, mas os vermes já estavam a caminho de consumí-los totalmente. E por longo tempo fiquei ali. Imobilizado...

Não lembro qual foi a última vez que o olhei, nem tenho certeza se será a última de fato. Sei apenas que um túmulo está sendo cuidadosamente edificado para seu descanso eterno...

Um comentário:

  1. quase me fez lembrar dos sonhos que eu mesma enterrei!

    com o tempo voce descobre que nao vale se prender as coisas que já tiveram sua graça, seus momentos de glória!
    elas só te fazem perder ou adiar as coisas novas!
    por mais sedutoras e encantadoras que elas(as velhas)sejam...elas nunca serão novas novamente.

    hoje, eu prefiro cantar!
    eu mesma!=}

    gostei do texto!=D

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