segunda-feira, 30 de maio de 2011

O que saiu na hora da libertação

Deixem que as areias me sufoquem
Que as cadeias me cativem
E o amargo me embriague
Deixem a dor me esculpir
O embaraço me alentar
E a angústia me ferir
E que aos poucos me apague
Desajeitado como rima louca
Ferido pelo golpe de uma vida vã
Nada sinto a não ser a anedonia
Vazia e fria a pulsar
Rouca qual animal à beira da morte

E que se desfoquem as lentes que me procuram
Que se desfaçam como neblina foge à luz
Desejo a impenetrabilidade que me foi negada
E a furtividade que ainda me seduz

Azedos são os dias que me perseguem
Fiz disso o meu tostão
Sacrifiquei minhas verdades pelas mentiras vendidas
Enrolei meus amigos em fios de aço
E sobre a dor que lancina
Sobre a ferida aberta na mão
Coloquei a metáfora jamais dita
Deixei para morrer o sonho que me alimentava
E, forte, matei a própria morte
Que me esperava no portão

Nada me satisfaz
Nenhuma carne me põe alegre
Sonhos já não fazem sentido
Escritos já não revigoram
Quem sabe um dia eu não aprenda
E por fim me arrependa
De toda esta imprestável apatia
De como tenho me despido
De toda esperança contumaz
Que já não trago comigo
Nem espero trazer um dia

Queria morrer por um dia
Sob um sol de esquecidos
E sorrir pros ventos, certo
De que não há pendências
Não há um ponto perdido
Não há conhecidos por perto
Não há carta tardia

Desejos sufocam-me
Desejos vis
Desejos que não são desejos
São fábricas de despejo
De sub-sonhos sutis

Um comentário:

  1. Se o que vc fala é o que você sente, eu acho que te entendo.

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