sábado, 12 de dezembro de 2009
Côr-de-Luz
Primeiramente azul. Calmo e suave. O amanhecer, a respiração. Passos que, trêmulos, investigam o mundo ao seu redor. Passos que, agora esverdeados, brincam e transcendem. O crescimento faz o amarelo enfim brotar. As decisões são mais severas, mas ainda há o riso, ainda há ternura. E o espírito, bravio, ganhando mais vívida côr, algo alaranjado, mostra a sua coragem. E cresce ainda mais para chegar ao seu auge, vermelho. Como uma erupção, sem saber, sem compreender, até que roxo, pensativo, melancólico, com o planeta inteiro no olhar, relembra o azul...
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Medos Estranhos I
Três crianças brincavam alegres no quintal. Mas o vento cinza que rugiu por perto fez a mãe ficar com medo e mandá-los entrar. Começou a chover e a casa ficou sem energia elétrica. Lá fora iniciaram-se os ruídos, como de pessoas em desespero. Nada mais restava a não ser a esperança, e mesmo com todas as dificuldades esperariam para que os olhos pudessem ser abertos novamente. Por enquanto, os corredores eram imensos, mas logo os contemplariam como uma passagem convidativa ao novo dia que surgia. Iria acabar. Tudo iria acabar...
sábado, 26 de setembro de 2009
Testes I
Que gênio louco você é?
Faça você também Que
gênio-louco é você? Uma criação de O Mundo Insano da Abyssinia
http://www.geocities.com/area51/shire/9828/kubrick.html
terça-feira, 15 de setembro de 2009
Requiem: Memórias
Por uma dessas insones madrugadas ocorreu-me de passear nos vales sombrios de minhas memórias. Deixei-me envolver pela atmosfera noturnal e ao encontrar o defunto de um velho Sonho, a música me fez sufocar. Sentia como se o meu coração fosse esmagado à uma pressão gigantesca, impedindo meus pulmões de impelir o ar. Ao olhar e sentir o cadáver, uma das sensações mais inexplicáveis se apoderou de mim. Eu o contemplava ali, imóvel. Uma vulgar lembrança de um Sonho vivaz e impetuoso que caminhara comigo há não muito tempo. Era possível ver em seu semblante, mesmo, naquele momento, estático e carcomido, a sua aparência juvenil. Transcendi à primavera de meus sonhos, ao momento e ao lugar onde pude reviver toda essa estranha felicidade. Ali eu confrontei meu eu quando no vigor da paixão. Ali o vulto de meu Sonho, com seu semblante encorajador, apontava-me o rosto mais belo e misterioso que já cruzou meu caminho. Eu pude ver meu coração negando-se a qualquer custo a admitir o que sentia. Mãos hábeis, olhos profundos. Ainda todo o ambiente podia se fazer sentir facilmente, e frente a esse estímulo o choro bateu à porta de minha garganta. Ora queria deixá-lo fluir e lavar a minha desgraça, ora o prendia para que outros sonhos não desmoronassem juntamente com ele. Ainda toda a felicidade e dor se apresentavam ante minha presença, fazendo meu espírito comover-se de maneira tão sublime que não seria possível detalhar. Como que querendo despertar, forcei meus olhos até abrí-los novamente. Minhas mãos seguravam firmes as mãos do cadáver de meu Sonho. "Cante para mim, cante para mim!" eu repetia enquanto o chacoalhava. Era como a sensação da esperança de ver seus olhos a abrir-se, mas os vermes já estavam a caminho de consumí-los totalmente. E por longo tempo fiquei ali. Imobilizado...
Não lembro qual foi a última vez que o olhei, nem tenho certeza se será a última de fato. Sei apenas que um túmulo está sendo cuidadosamente edificado para seu descanso eterno...
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
Rosto de Vidro
Guardei os meus punhos cerrados
Sob as mangas de minhas dúvidas
Sob as pálpebras de um olho ferido
Como um frágil espelho de vidro
Rejeitei o meu rosto quebrado
Estranhos e frios são meus passos
Se fazem ouvir entre as tumbas
Sussurrantes, os pés andarilhos
Elegante marchante acabado
Talvez louco, cansado e errante
Entre um ermo de arbustos esparsos
Entre sebes noturnas, cobertas de brumas
Levanto a voz em um brado:
'Ouçam os montes e os seus viajantes:
Não ousem seguir os meus passos.
Deixe que o tempo e suas constantes
Separem os nossos espaços."
Direi à solidão que me acompanhe
Que possa guiar-me entre os montes
Que afaste-me todos os homens
E as suas mentiras marcadas
E ao fim de toda a jornada
Eu possa encontrar-me em honra
A erguer meu olhar triunfante
A cantar o meu hino velado
Abri os meus punhos feridos
Sob as bordas de minhas túnicas
Sob os olhos agora cerrados
Relembrei o espelho quebrado
Revelei o meu rosto de vidro
domingo, 30 de agosto de 2009
Dos Filhos aos Filhos...
Ouvi ó povos, o desespero da Mãe de Muitos Filhos. Ela já não mais responde por seus atos. Já não conhece os filhos pelo nome. Posso sobre tal falar por que a vi. Tivemos que fazê-la adormecer. Seus maridos a humilharam, zombaram de suas vergonhas e a repudiaram. Muitos de seus filhos estão sucumbindo, enquanto seus irmãos mais fortes se aproveitam de suas fraquezas. Ela também os esqueceu, os poucos que sobrevivem estão famintos pelas calçadas. São crianças apenas, amorenadas pelo Sol, chorando por sua mãe que tanto amam, mas que as rejeitou completamente, por motivos que ainda não sabemos, mas que provavelmente não foi por puro desprezo consciente. Sim, elas a amam. Perguntei-lhes sobre Ela, e as crianças, com orgulho, levantaram-se e trouxeram à face um sorriso, e disseram, brincando e já esquecidas das tristezas, que Ela foi abençoada. Mas elas nem chegaram a conhecê-la em sua juventude. Ela é fruto de casamentos frustrados, e também desconhece seus genitores. Sua história foi manchada com seu próprio sangue, que lhe era arrancado por seus muitos amantes. Agora seus filhos são muitos. Ela clama.
Imagem: Magritte, Filho do homem, 1928
quinta-feira, 9 de julho de 2009
Eu e a noite
A luz que, da rua, iluminou minha janela subitamente apagou-se. Era uma luz tênue e singela, que houvera desenhado os contornos da grade no chão e acariciara-me docilmente, trazendo ar da noite lá fora. Mas a luz, naquele momento, deixara de existir e, juntamente com ela, os últimos resquícios do dia que passara também se foram. Tudo o que se fez de produtivo, todas as sensações experimentadas, todos os fenômenos ocorridos encontravam seu repouso naquele momento. Senti algo como o fim de um ciclo. A sensação do encerramento do dia. Me pus a observar à janela o quadro melancólico que se me apresentava na quietude noturna. Alguns postes, carros estacionados, um grande pinheiro no centro do pátio...
Todos já haviam se rendido ao doce convite do sono, a julgar pelo silêncio que reinava e pelas janelas apagadas. Uma ou outra dessas janelas possuía a luminescência frenética oriunda de um aparelho de televisão, denunciando um insone na tentativa de romper o tédio. A ópera enfadonha de grilos apaixonados, o barulho constante e melancólico de um ventilador ligado e, vez por outra, reverberando pelos becos e ruas do bairro, o regougar desafinado de um cachorro que latia ao longe, era toda a música que completava aquele quadro obscuro.
Tudo isto combinava perfeitamente com a minha alma naquele momento. Por que tudo é perfeitamente metafórico. Por que a minha vida é um quarto à penumbra e eu sou um amante de algo desconhecido ou inexistente a observar tudo, a catalogar os mínimos detalhes, olhando pra dentro de mim; olhando de dentro pra fora. Eu não posso acender as luzes, por que eu acredito que incomodará aqueles que estão perto de mim, aqueles que me amam. Eu não tento me esconder, não tento sufocar o que sinto. Não. Na realidade eu quero justamente o contrário, apenas não sei como fazer. Eu invento e reinvento maneiras de me expressar, mas todos estão ocupados demais com suas próprias vidas. Sentir é suficiente...
Estou improvisando uma luz para fotografar meus pensamentos e relembrá-los mais adiante. Neste meu retrato verei, futuramente,o rosto de uma criança de olhos tristes e vagos, mas nunca dominados completamente pela desolação. Olhos que questionam... Ali estará registrado o que eu posso dizer que são os primeiros passos na grande jornada em busca de mim mesmo...
terça-feira, 2 de junho de 2009
Do Nascimento e Renascimento Das Idéias
quinta-feira, 14 de maio de 2009
O Imortal
Há muito tempo eu já estive preso no que se pode chamar de "invólucro material", quando os sóis eram intransponíveis e a poeira das estrelas inalcançáveis. Toda a barreira do tempo como um oceano negro erguia-se. E os olhos, ainda em carne, vislumbravam, atônitos, o firmamento. O infinito, o eterno, o tudo, o nada não se podiam compreender. Éramos apenas coadjuvantes na majestosa encenação da vida, eu e os que comigo sobreviviam. Mas eu desejava viver, além de tudo.
Como podes tu enxergar além de teus limites? Acaso é possível para ti esgueirar-se entre os mistérios que encerram em si a fonte de toda as coisas? Não mais possuo prazeres como dantes, não mais me arrependo por eles com a mesma intensidade. Não mais morte.
Renúncia!
Não se pode controlar todas as coisas. Há um preço a ser pago e sempre houve, não há atalhos e nunca houve. Dolorosas são as colunas e as portas da sabedoria, e, ainda assim, permanece a certeza de que a totalidade do poder e do conhecimento não se pode alcançar. A corrupção do corpo atinge também a alma, putrefando-a. Poucos e imensuravelmente poucos são os que compreendem, e estes são aqueles que nos perturbam e nos inquietam de maneira que fazemos da existência de tais seres uma aventura, ou até mesmo uma obstinada personificação de pensamentos íntimos.
segunda-feira, 11 de maio de 2009
Etéreo
Como uma canção há muito entoada, de vozes antigas, já não existem. Como sons de instrumentos esquecidos, oriundos de mentes ancestrais... que atravessam o espaço em busca de quem os ouça. Eis os acordes que soam, eis os acordes! Fluem de mim, atravessando as recâmaras de minha alma, reverberando, buscando forma. Pairam sobre os bosques em mim. Eis as notas que ecoam, eis as notas! Eu quero abarcá-las, quero com elas dançar. Eu quero sentir. Estão leves, suaves... nebulosas distantes... semi-vácuo fluorescente... Ouvir o brilho das estrelas...
A Eternidade faz-se ouvir aos que a buscam. E o silêncio torna-se doce canção.
Repercute ainda o som dos festejos, sorrisos. A espera incansável por teus olhos. Posso sorrir ao imaginar as alegrias do porvir. Meus braços estão abertos...
Os olhos refletem a grandiosidade dos mistérios. O coração queima ao sentir o fogo dos olhos. Eu busco os teus reflexos em toda essa imensidão. Por que a lembrança é algo que nos inflama, a saudade é um som de harpa a tocar suave a canção que foi esquecida em algum lugar dentro da alma. Mesmo as formas que nunca contemplei, os arpejos que jamais ouvi, mesmo o perfume que certamente me acalmaria mas que nunca senti, me trazem os contornos de algo desconhecido, inexplicável, que me fazem exultar não sei por que. Mas, ainda assim, há a dor, talvez da intangibilidade, talvez da incerteza... A dor da ausência...
Deixo então a canção tomar o espaço, não a quero perturbar. Tenho o negro céu para alimentar meus olhos enquanto abertos, tenho ainda a música para preencher a escuridão ao fechá-los. E posso ser parte de uma orquestra surreal, que é mais que um simples devaneio, é o Universo dentro de mim...
quarta-feira, 6 de maio de 2009
Afugentando devaneios antes de dormir...
desconforto e amargura dão as mãos
e a um golpe só de teus olhares
despedaças de uma vez os meus gemidos
Sem a paz, sem o véu
eu te desprezo
perdi a cadência, o ritmo, a poesia
Mas não se vá... ainda...
Criação espontânea durante uma de minhas rápidas visitas à comunidade Madrugada, no orkut.
Sem muito contexto, sem muito sentido...